As papoilas

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quarta-feira, 10 de junho de 2015

A Medusa e o Manjerico

"Era uma vez, numa Roma muito, muito antiga, um jovem chamado Perseu que teve o azar de se enamorar pela mulher errada, que de tão errada que era tinha serpentes em vez de caracóis no cabelo e uma cara tão assustadora que era capaz de transformar qualquer coração em pedra. Mas não o dele. Num certo dia de Junho, aproveitando a euforia das festas sanjoaninas, lá ganhou coragem para com ela ir ter mas, com medo de ser transformado em pedra, decidiu disfarçar-se de manjerico. “Quem vem lá?”, perguntou a Medusa, perscrutando com o olhar o falso manjerico. “Sou eu, minha amada”, disse o Perseu, “trago-te aqui um vaso com Erva dos Namorados com uns versos do Fernando Pessoa, pois sei que é o teu poeta preferido” (Erva dos Namorados era o nome que se dava ao manjerico na Roma Antiga). “Onde estás”, atirou a Medusa; “Mostra-te, que não te consigo ver”. “Estou aqui, meu amor, no manjerico”, gritou o Perseu meio a medo; e tinha razão. Antes mesmo que acabasse a frase, zás; a Medusa transformou o manjerico em pedra só de olhar para ele, com aquele olhar que as mulheres costumam deitar quando nos esquecemos do dia do seu aniversário.

Só que o amor de Perseu era tão grande, tão vivo e tão quente, que funcionou como um contra-feitiço: só a parte de fora do manjerico é que ficou petrificada. Dentro do vaso, continuava a ter espaço para respirar; e havia terra e sementes e tudo. “Olha que bela ideia”, pensou ele, admirado com a sua sorte, “assim, posso plantar o meu manjerico como símbolo do meu amor e, quando ele morrer, tenho este de pedra para me lembrar do quão bonito era aquele que eu plantei”. Enchendo-se de coragem, saiu de dentro da campânula petrificada e escapou-se sorrateiramente, aproximando-se o suficiente da Medusa para lhe roubar um beijo. Surpreendida, a Medusa acabou por perder a cabeça – de amores, claro! – transformando-se numa bela donzela. E assim foi, e viveram juntos e felizes para sempre – e o manjerico tornou-se no bouquet de casamento dos dois; uma lembrança para todo o sempre de que, mesmo por baixo de uma capa de pedra, pode florescer um amor verdejante."

2 comentários:

  1. Agora já sei porque é que nunca recebi um manjerico.... é para não perder a cabeça :P

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  2. Talvez não seja o caso , Susana 😀

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